quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Amanhã, Fantástico

Fantástico é seu adjetivo favorito.
Hoje é o ontem de amanhã, e vale
nada. Para os anais da história, e
da sua vida, por todos os textos
justificados, palavras decassílabas
e linhas iguais, novo valor a cada
novo segundo. Para o nosso deses-
pero, volatilidade e obsolescência
máximas. Para o nosso fim, ansie-
dade por todo o percurso.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

e o napalm nos libertará...

Receita para tolerar o carnaval nessa cidade:
Starsailor - All The Plans (2009) + The Weepies - Hideaway (2008) + Within The Ruins - Creature (2009) + Astra - From Within (2009) + U2 - No Line On The Horizon (2009) + ficar em dia com House + coca zero + ver o VOD - Dead In New York + ouvir a voz dela... assim...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Perdoe-me Pelo Sol

Eu quero escrever o grande romance da literatura brasileira pós-moderna. Eu desejo ser estudado nas escolas e academias, ter minha vida pessoal e estilo literário dissecados. Eu busco a imortalidade através das palavras e não faço a mínima idéia de como começar. Penso em Fante e Asimov, penso em minha vida e na certeza de que ele, o grande romance, está nesses anos vividos, está dentro de mim, mas nada grandioso surge. É tudo a mesma ladainha, velha porcaria que há dez anos atrás. Pouco mais requintadas, menos rústicas, menos cruas, mas ainda as velhas linhas transpirando auto-piedade a cada seqüência sujeito-predicado posta em papel.
São quatro e trinta e nove da manhã de quinta-feira, mais uma madrugada insone, e penso que poderia parar de pensar para ter alguma paz. Eu planejo a inexistência total via plano perfeito há uns bons onze anos. Como é desgastante pensar em saídas perfeitas quando elas não existem e pronto. Pensar que um indivíduo comum pode driblar metafísica e filosofia, toda a culpa e teorias perfeitas vendidas e empurradas por séculos, e bolar uma saída de infernos pessoal e coletivo é patético.
Preciso ver o mar. É isso. Vou ver o mar e adormecer sob o teto de alguma barraca em praia isolada torcendo para o dia não amanhecer e a noite ser eterna. Eu funciono melhor sem luz natural; sem luz alguma, na verdade. Não existirão ansiolíticos nas águas dos cocos que eu capturar para matar sede e fome, muito menos antidepressivos. [Revisitando a lagoa azul, sem Mila Jovovich ou Brooke Shields correndo nuas pela areia...] Não existirão as obrigações diárias, socialização e políticas relacionais; me sinto bem entre os animais desprovidos de cognição mas vivendo sob códigos de ética, moral e honra muito mais sábios e acertados que os meus. É assim que a saída pode ser quase perfeita. Tendo isso, não preciso do romance perfeito e nem da ilusão de imortalidade para compensar medos tão comuns. Preciso dormir.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Parte 1 de série sem título

Antenor não saía de casa há quase uma semana. Nos últimos dias e horas, as paredes de seu esquálido apartamento eram testemunhas de sua dor, suas únicas confidentes. A palidez nelas gastava sua criatividade, era cada vez mais difícil atribuir rostos, nomes e idéias a elas; ninguém com quem conversar. Todas iguais, sem nome para ele, não mais suas amigas. Achava que já passara da hora de mudar para local mais verde, menos pintado, sem fiação presente ou anteparos com massa corrida estampada.
Na geladeira amarela e ferrugem, só água e vodka antiga. Cansado do álcool, bebeu uma jarra d’água e decidiu sair e ver as coisas.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Som da Cor

A arte do verde é que ela, a cor,
é tão gata que te arrebata e seduz
com classe, nada de vulgaridade.
Ela trabalha os sentidos mais
primais com sutileza mas propriedade,
e apela ao seu maior amor.
Ganha os seus olhos entre tonalidades
co-irmãs, primas e tias, e dá tchau
sem dor de despedida.

Taniguchi Style MMVIII

Nossos modos furtivos, que resolvem
coisas acelerando o tempo e pulando
etapas, só nos geram problemas. No
fim, à hora das contas, dos prós e
contras e recompensas e punições,
o esforço aliviado faz pouco ou
nenhum efeito, e fica a lição, a partir
de impressão, de que o caminho mais
longo e tortuoso nos levaria até onde
queríamos chegar.
Você é uma criatura linda, maravilhosa...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Mais uma crônica antiga...

DUAS PESSOAS

- Qual é o sentido da vida? A gente apenas vive, certo?
- Certo.
- A gente toca pra frente e vê no que dá, né?
- Né.
- Eu não tô certo?
[...]
- Pra quê planejar se a gente não sabe o que vai acontecer mesmo, né? Deixa rolar, certo?
- Certo.
- Então a gente olha pra parede e contempla o branco-nada, o tudo-azul...
- Legal.
- O que você tá achando?
- Legal.
- Eu também tô... Nada de perguntas, né?
- É...
- Nada que faça a gente pensar e ter dor de cabeça... E isso é ótimo. O que te parece?
- Legal.
- Eu gosto de conversar com você, você tem um papo legal... É profundo mas não me cobra muito.
- É..
- Certo.
- Certo.
- Então, quando é que você vai querer parar de contemplar a parede?
- Não sei...
- Você tá realmente gostando disso?
- Tô.
[...]
- É legal.
- Você é uma pessoa muito quieta... Meio monossilábica. Já te disseram isso?
- Já.
- E você não fez nada? Você não faz nada a respeito?
- Não.
- Por quê não? Não te incomoda saber que você incomoda as pessoas? Que seu silêncio tortura os outros?
- Não.
- Você não diz nada?
- Digo.
- O quê?
- O que eu tô dizendo agora.
- Você não vai fazer algo a respeito?
- Vou.
- Ah, finalmente uma atitude... Quero ver como isso vai acabar...
- Eu também.
- “Eu também” o quê?
- Eu também quero.
- Ver como isso vai acabar?
- Não.
- Ver o quê, então?
- A atitude do finalmente.
- Eu não tô entendendo...
- Nem eu.
- Porra, o que a parede tem que eu não tenho?
- Nada.
- Como assim?
- Nada...
- O branco e o azul? O nada e o tudo?
- Não...
- O quê? Como assim?
- Como.
- Eu não gosto de conversar com você, tudo é muito complexo. Você exige muito... E eu não queria pensar.
- Sim.
- Tá vendo? Eu nunca sei o que você quer dizer... Isso me confunde. Vamos ficar quietos... Olha a parede.
- Tudo bem.
[...]