quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ano do Primata (não são todos?)

Qual é o problema com esse negócio,
essa loucura, de abandono de problemas
e acolhimento de esperança, que é a
passagem de um ano para outro quando
é somente a passagem de um dia para
outro?
Entendo a necessidade, nós que somos
tão imbecis e tão fracos, mas não o
rito. Nunca o rito.
Então, foda o réveillon, foda no
réveillon, e me deixe longe de desejos
de mundo/vida/ano melhor inundando a
minha caixa de entrada no terra.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Cara de Blog

Caralho, entre ler a possível carta-suicídio
de Leila Lopes e a redação da menina da UFRJ
premiada pela UNESCO, prefiro uma maratona
dominical global composta por Turma do Didi
e seguida de recaps de programas "clássicos"
como Gente Inocente e Planeta Xuxa.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

GThree Shop Faith

Os verdadeiros testes são práticos e só
ocorrem em momentos de solitude.
Como elfos ou fadas ou o caralho que somente
aparecem para indivíduos e não para grupos.
Essa fé gritada ao pé de meus ouvidos,
essa paixão toda, é conversa.
E acredito que acredite, não há necessidade
em jurar, chorar ou ofertar-se à mítica criatura
no céu, não há o que provar.
A vida é teste.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Negróides

As negras de bundas grandes, todas ansiosas por
algo além de mediocridade, e seus buchos cheios...
Eu não as salvo, sequer em sonhos, e me doem as
suas ultrassonografias e enxovais comprados em
lojas do centro e berços de segunda mão.
Me ferem as pensões alimentícias negadas ou atrasadas.
O peso do mundo nos ombros da falência heróica...
E essa, até para os que não acreditam nela, parece
a minha sina.
Feliz natal, pinheiro de plástico.
Feliz ano novo, fogos de artifício, vestes brancas
e vida que nunca tive.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Yo No Hablo Tu Lengua

Todos escrevem.
Todos fotografam.
Todos dirigem, produzem, filmam e editam vídeos.
Todos produzem, gravam, mixam e masterizam discos.
Todos produzem shows.
Todos são webdesigners.
Todos são designers.
Todos não são putas e sabem, desde pequenos, como
as coisas funcionam, como se dá a vida e como acaba
o mundo,
MENOS EU.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Pietá

E as ex-putas, os ex-viados, ex-alcoólatras, ex-ladrões,
ex-assassinos, ex-estupradores e os ex-ateus sentaram-se
à direita do Deus-Pai, pós remissão de pecados, pós encontro
com o Cordeiro de Deus [hosana nas alturas!], e oraram por
todos eles, os ateus, positivistas, racionalistas e materialistas
(não são os ateus tudo isso?), com sucesso, mesmo estando
eles, em sua totalidade, perdidos. ++++++++++++++++++++

domingo, 11 de outubro de 2009

Descrença, Pt. 1

Negação da figura materna = seriamente perturbado
[Os piores receptáculos nos abrigaram por nove meses (ou quase isso).]

sábado, 10 de outubro de 2009

DoisDoisTrês

Quero a vida dos meus cinco anos de volta,
como você e todo mundo.
[Menos os que foram abusados, esses não.]
Quero a vida de liberdade real, a única que
existiu ou existirá, no lugar desta que
aqui está.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Fallout Três, Meu Amigo

Somos educados e usamos livros de arte
sobre mesas de centro, por isso somos educados.
Dizemos as palavras mágicas mesmo com dor
nas costas, sorrimos sem querer e respiramos
sem consciência do ato.
Sofremos às sextas empurradas esôfagos abaixo,
celebramos as curtas tardes de sábado
e odiamos a melancolia da santa igreja aos
domingos, semana após semana.
Continuamos educados, até uma hora dessas...

domingo, 4 de outubro de 2009

Visão Além d'Alcance

Se toque não, nega, que o
Zero 7 irá nos salvar gratuita,
subitamente.
Como num sonho, você verá.
Você verá, não espero mais.
Canso de esperar que você veja.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Vermillion Pt. 2

Corey Taylor / Slipknot

She seemed dressed in all of me,
stretched across my shame.
All the torment and the pain
leaked through and covered me.
I'd do anything to have her to myself.
Just to have her for myself...
Now I don't know what to do,
I don't know what to do when she makes me sad.

She is everything to me;
the unaquired dream,
a song that no one sings,
the unattainable.
She's a myth that I have to believe in.
All I need to make it real is one more reason.
I don't know what to do,
I don't know what to do when she makes me sad.

But I won't let this build up inside of me.
I won't let this build up inside of me.
I won't let this build up inside of me.
I won't let this build up inside of me.

A catch in my throat, choke.
Torn into pieces.
I won't, no!
I don't wanna be this...

But I won't let this build up inside of me.
I won't let this build up inside of me.
I won't let this build up inside of me.
I won't let this build up inside of me.

She isn't real.
I can't make her real.
She isn't real.
I can't make her real.

sábado, 5 de setembro de 2009

Messi Diz

Meu forte não é a felicidade, admito.
Não são cãezinhos fofinhos, ursinhos
carinhosos e algodões-doce em domingos
no parque.
É amargura e rancor e ironia e acidez,
tudo para camuflar tristeza e medo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Cronos, O Velho Canalha

"Por que o tempo passa? Por que não ficamos crianças?", ele me perguntou.
Bastou isso para me desarmar, lavar com criolina a sujeira n'alma, pela carga do dia, e ver cor mesmo onde tons de cinza reinam desde Cronos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Natas

Mesmo entre as coisas que
se pensa e não se diz, há
as que escapam e falam de
você porque precisam ver
luz.

Fotossintetizadas, trazem
as amigas, ladeira abaixo,
e causam estragos irreparáveis.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ela e O Pau Pequeno

Cinco meses sem dar, recorde pessoal para ela, ao menos neste ano. Novo fulano, novo corpo - estranhezas, as mesmas saias, os mesmos drinks. Dedos entre pernas, afastando saia e roupas de baixo, lubrificação, expectativa e realização. Ordem natural das coisas...

Do sofá para a cama, é hora. "Tire a roupa [sem 'por favor' na sentença imperativa]!" Vergonha, vergonha, vergonha! Cinco meses, recusas, para isso? "Pau pequeno, pau pequeno, não mereço isso!"

- "Aham, ram, ram, cof, vou ao banheiro".

Meia hora mais treze segundos, água correndo, ladrilhos imperfeitos e cafonas, "que merda, devo rir do pau do cara ou de minha patética sorte?"

Volta à cama, pau coberto; "nos abracemos que ganhamos mais", pensava.

- "Acho melhor ir para casa, está tarde."
- "Ok."

Nunca mais!

Reverências Às Necessidades

Eu salvo, resgato, protejo você.
Esta noite, todas as noites até
o fim do ano, até o "sim".
Até "sempre"...
Queira.

O mesmo pra mim: resgate, salvação,
proteção.
Por todas as noites, até o fim do
ano, até o "sim"...
Até "sempre", que é hoje, agora.
Quero.

Ligue-me, hoje, venha até mim,
não-anunciada, respeite o trema
que respeito, nos respeite e
pronto.

Puer Aeternus

Adultos mentem,
crianças falam a verdade;
sejam crianças.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Percamos, Ambos

Do lado de cá da cerca oxidada e ocre
não há problemas com a admissão da
enfermidade, da compulsão, e da eterna
presença da derrota em todos os embates
eu vs. ela, a Sra. Compulsão.
Do seu lado a coisa é inteiramente
diferente: a cerca nem oxidada é, a
paleta do planeta é multicor, e os
predicamentos de problemas entre nós
são nutridos somente por mim. Só eu
os vejo, em verdade.
Para você, tudo mascarado por orgulho
e ignorância.
Abençoadas sejam você e ela.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Final

Não compreenderam a urgência que
havia nele em ser feliz naquele dia,
em realizar o possível e em ordem de
importância.
Tinha de ser naquele dia!
Não sabiam que aquele era o penúltimo
dia dele por bandas terrenas.
Quase nunca se sabe.

sábado, 27 de junho de 2009

Under Somali Fire

Black hawk down!
Mayday, mayday!
Dá três passos e meio e rola sobre
as barricadas impostas pelo inimigo...
Granada, rpg (storyteller, óbvio); cuidado
com a munição e os magrelos nos telhados.
Fala sobre honra, caráter e outros
atributos estranhos aos civis-leigos-traíras.
Fala sobre voltar e valorizar a simplicidade
antes ignorada.

domingo, 7 de junho de 2009

O Que Tenho

O que tenho é o facão.
Quando palavras não mais bastam,
só me resta a lâmina oxidada, cabo
plástico.
Esta é a única resposta que posso dar.
Sinto, por isso.
Sinto, por não entender o que sai de
minha boca.
Só me resta a lâmina, é o que posso
dar; entenda como melhor quiser/puder.

domingo, 31 de maio de 2009

Neuramor

- Amo você.
- Obrigado.

O amor é só
estímulo nervoso, não vê?
Um chilique posto à frente
por sinapses, para neurônios,
liberando sensação de
bem-estar e ilusão de
pertencimento e segurança.
Apenas apelo a memória
neuronal, conforto neurológico...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

The Count Of Tuscany - Dream Theater

[...]

Could this be the end?
Is this the way I die?
Sitting here alone
No one by my side

I don't understand
I don't feel that I deserve this
What did I do wrong?
I just don't understand

Give me one more chance
And let me please explain
It's all been circumstance
I'll tell you once again

You took me for a ride
Promising a vast adventure
Next thing that I know
I'm frightened for my life

"Now wait a minute man
That's not how it is
You must be confused
that isn't who I am

Please don't be afraid
I will never try to hurt you
This is how we live, strange although it seems
Please try to forgive

The chapel and the saint
The soldiers and the wine
The fables and the tales
All handed down through time

Of course you're free to go
Go and tell the world my story
Tell'em about my brother
Tell'em about me
The Count of Tuscany"

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Calos

Esta senhora cadeirante, isquemia,
lado direito paralisado, quase noventa,
trepou de quatro, quando nova, disse
barbaridades, viu mais sacos escrotais
que muitos urologistas/andrologistas, e
é, hoje, uma santa.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Trezena, Dia Um

Não foda tudo, não comece agora.
Apenas troque a resistência do
chuveiro e comece do começo.
Escreva as suas memórias em
corpos de e-mails no outlook
express e reze por mais um
dia de sanidade.
As coisas não devem terminar
antes de realmente começarem,
não? Isso é retórica, ignore e
continue escrevendo. Id, ego,
super-ego. Id, ego, super-ego.
Alinhem-se, alinhem-se, ajudem-se,
ajudem aqui, fiquem quietos e direitos.
Bonitos, meninos, assim!
"Eu realmente odeio o meu trabalho"
é um bom filme. Arranje um trabalho,
o odeie, mas o agüente. Agüente
até o fim. Mantenha tremas até o
último dia de sua vida; fidelidade,
"semper fi", lembre-se disso.
Duas novas orações, uma pela
gostosa que você ama e quer todos
os dias, uma por mudanças que
você implementará e independem
da existência de crença em qualquer
tipo de deus. Amém.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Apresentar Armas

Usar meias escuras e bermudas
não é para todos.
Tolos que são, donos de Prismas
com brasões de linhagens européias
adesivados às portas de suas malas,
jamais as usariam adequadamente,
com classe.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Dá Tudo!

Não sei o que têm seus dentes
e lábios que me acarinham por
dentro sempre que se mostram,
tão brancos e prateados.
Não sei, prometo.
Há os detalhes em verde, talvez
seja isso.
Vai saber...
E se há conforto interno, há muita
paz e desejo que o tempo não se
mova, como durante um assalto
a ônibus: mãos à vista, corações
às bocas.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Dias de Axé

O Axé determina o caráter do cabra,
e o Pagode só piora as coisas, diz se
ele é capaz de matar, além de roubar
e mentir.
O Axé não tolera os intolerantes, porque
burrice não perdoa e nunca perdoará.
Não é ele, o Axé, a vítima esmagada sob/entre
ferros retorcidos ou contorcidos de cor es-
meralda pintados pela Volkswagen do Brasil.
Existe Volkswagen do Brasil?
Existe transnacional de qualquer lugar, esse
é um problema, existe Axé do Brasil.
Tipo Ayrton Senna, do Brasil,
que queimava a rosca e gostava
de Axé, ou qualquer merda afim,
e era tricampeão do planeta,
e morreu esmagado sob/entre
ferros retorcidos ou contorcidos,
safiras e brancos.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

All I Need

Thom Yorke / Radiohead


I'm the next act
Waiting in the wings

I'm an animal
Trapped in your hot car

I am all the days
That you choose to ignore

You are all I need
You're all I need
I'm in the middle of your picture
Lying in the reeds

I am a moth
Who just wants to share your light

I'm just an insect
Trying to get out of the night

I only stick with you
Because there are no others

You are all I need
You're all I need
I'm in the middle of your picture
Lying in the reeds

It's all wrong
It's all right
It's all wrong

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Little Summer Bee

Drug kicks in.
Time to talk about future plans:
kids, careers, love, routine.
While it lasts, at least...
I hope it lasts forever.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Melhor Sacrificar...

Se um dia eu acordar e desejar
"bom dia" ao dia, ao sol e/ou à
vida, dê-me um tiro certeiro que
estou demasiado enfermo.

Arbitrário Arbítrio

Quando nos deparamos com a tragédia,
é merda o que mais falamos.
É Deus que existe e sabe o que faz,
é o haver de propósito para tudo, é o
nada que é vão.
Você sabe, coisas do gênero...
Porque é impossível, intolerável, lidar
com a idéia de que estamos completamente
sozinhos e de que somos inteiramente
responsáveis por nossas vidas, pelo rumo
miserável que elas e o mundo tomaram,
tomam ou tomarão.
É incrível que arbítrio, poder máximo, caiba
a quem foda, cague, mate e ame.
"Thought of being normal... Changed my mind, back being me." - author unknown.

quinta-feira, 26 de março de 2009

...................

A porra do msn sem você é tão útil
quanto os sinais de almoço nos grandes
sítios de construção civil; qualquer operário
sabe que a hora é da marmita por causa do
estômago, um esquerdista barulhento.
O terra não traz e-mail seu.
Você não liga e diz que me ama e que não vive
sem mim e que eu não sou nada daquilo, que eu
sei sim das coisas, que você quer pegar minha
mão e que faremos as coisas juntos.

quarta-feira, 25 de março de 2009

By The Way...

Ok, game over. I'm sick and tired, end of devotion. Now you can go and fuck yourself. Don't forget and find prince charming on the way [of fucking yourself].
Só sentimos falta do que perdemos.
Só achamos ruim excesso de atenção quando ninguém liga
se o bolo de chocolate de caixa tem calda, recheio ou
nenhum dos dois.
Luciana, chega logo que eu tô precisando de você, caralho!

terça-feira, 17 de março de 2009

Nós, Ufanistas

Nem a beleza no anonimato artístico,
que nos empurra para progresso inteiro,
não o conceito greco-romano, e faz questionar,
é capaz de nos vencer ou sensibilizar.
Egóica aura, que nos faz esquecer raiz
e socar o ar, diz a todos que o nosso é
o melhor e nos poupe de contato que humaniza.
Sejamos deidades, sempre, sejamos inalcançáveis
e tão belos quanto Narciso.
Sejamos tão bons quanto queiramos ou pareçamos,
sejamos mais amados que todos os deuses.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Week's Playlist

This should do...

Ephel Duath - Through My Dog's Eyes
Madeleine Peyroux - Bare Bones
Faith No More - Angel Dust
Camera Obscura - My Maudlin Career
108 - A New Beat From A Dead Heart
The Number Twelve Looks Like You - Worse Than Alone
The Qemists - Join The Q
Here Comes... El Son - Songs Of The Beatles ...With A Cuban Twist
Emilie-Claire Barlow - The Very Thought Of You

segunda-feira, 9 de março de 2009

VV

Sonhei com você: nunca a tive,
sempre a quis, angústia total.
Mesmo assim, é você quem me
salvará ou sou eu quem fracassarei?
Tentando ou não tentando?
Veremos, enxerguemos...

Método Padilha

Hora de desenhar moldes/plantas/
esquemas de origamis; temas urbano,
praia, profissões e natureza.
A interseção dos ladrilhos na
cozinha e de nossas vidas não são
somente exatas; matemática ou
física.
Tia Regina sentiria orgulho: não
medimos absolutamente nada usando
visão ou quaisquer outros sentidos.
Jogamos as regras do jogo, seguimos
instruções, e é tudo perfeito, oriental
e morto.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Baby, I'm Nitro

Baby, eu sou nitroglicerina.
Não que seja explosivamente adrenalina
e agitação; somos similares em potencial
destrutivo, é só.
Eu devo aceitar que sou nada e muito
provavelmente nada serei; perdido há muito.
Que as ondas e marés serão ondas e marés
mortas antes que eu mude concretamente,
rumo a promissor e novo horizonte.
Eu te levo comigo, rumo ao nada ou ao fim,
se você deixar.
Se eu deixar, também.
Seja feliz, faça a sua vida, tenha a pessoa
que vai aos bares e dança carnaval e sorri
aos seus amigos, aproveite a chance.

Só O Fim Satisfaz

Queremos o outro morto, terminado.
É essa a definição de inofensivo
que mais nos apraz.
Não basta que esteja quieto ou
fora do radar, te quero fora do
planeta, notícia de desgraça na
tv ou portais populares.
Dá pra ser mais primal que isso?

Tratado-Acalento

As sobras de cutículas, o jornal do dia, já velho,
amassado mas ordenado sobre a mesa de centro,
e textos curtos, não-revisados, escritos em pálidos
blocos de origem genérica; tudo bastante repartição
pública.
Há que se preencher três cadernos de caligrafia
para aproximar-se da estética desse deus de todos?
Há que se estimular subjetividade mais que máxima
para aparentar alguma coerência ou conhecimento
pleno sobre o que é escrito, dito e pensado?
Vamos escrever cartas anônimas em dias de calor
e noites de frio, vamos!
Vamos nos esforçar para a construção de imagem
estimada e formação de grupos mais bonitos, onde
pareçamos nos amar.
Mudemos tudo, menos o necessário, e sentemos
juntos, mãos dadas/intenções em sintonia/sorrisos
idênticos, porque apenas existir já é suficientemente
desconfortável.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Amanhã, Fantástico

Fantástico é seu adjetivo favorito.
Hoje é o ontem de amanhã, e vale
nada. Para os anais da história, e
da sua vida, por todos os textos
justificados, palavras decassílabas
e linhas iguais, novo valor a cada
novo segundo. Para o nosso deses-
pero, volatilidade e obsolescência
máximas. Para o nosso fim, ansie-
dade por todo o percurso.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

e o napalm nos libertará...

Receita para tolerar o carnaval nessa cidade:
Starsailor - All The Plans (2009) + The Weepies - Hideaway (2008) + Within The Ruins - Creature (2009) + Astra - From Within (2009) + U2 - No Line On The Horizon (2009) + ficar em dia com House + coca zero + ver o VOD - Dead In New York + ouvir a voz dela... assim...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Perdoe-me Pelo Sol

Eu quero escrever o grande romance da literatura brasileira pós-moderna. Eu desejo ser estudado nas escolas e academias, ter minha vida pessoal e estilo literário dissecados. Eu busco a imortalidade através das palavras e não faço a mínima idéia de como começar. Penso em Fante e Asimov, penso em minha vida e na certeza de que ele, o grande romance, está nesses anos vividos, está dentro de mim, mas nada grandioso surge. É tudo a mesma ladainha, velha porcaria que há dez anos atrás. Pouco mais requintadas, menos rústicas, menos cruas, mas ainda as velhas linhas transpirando auto-piedade a cada seqüência sujeito-predicado posta em papel.
São quatro e trinta e nove da manhã de quinta-feira, mais uma madrugada insone, e penso que poderia parar de pensar para ter alguma paz. Eu planejo a inexistência total via plano perfeito há uns bons onze anos. Como é desgastante pensar em saídas perfeitas quando elas não existem e pronto. Pensar que um indivíduo comum pode driblar metafísica e filosofia, toda a culpa e teorias perfeitas vendidas e empurradas por séculos, e bolar uma saída de infernos pessoal e coletivo é patético.
Preciso ver o mar. É isso. Vou ver o mar e adormecer sob o teto de alguma barraca em praia isolada torcendo para o dia não amanhecer e a noite ser eterna. Eu funciono melhor sem luz natural; sem luz alguma, na verdade. Não existirão ansiolíticos nas águas dos cocos que eu capturar para matar sede e fome, muito menos antidepressivos. [Revisitando a lagoa azul, sem Mila Jovovich ou Brooke Shields correndo nuas pela areia...] Não existirão as obrigações diárias, socialização e políticas relacionais; me sinto bem entre os animais desprovidos de cognição mas vivendo sob códigos de ética, moral e honra muito mais sábios e acertados que os meus. É assim que a saída pode ser quase perfeita. Tendo isso, não preciso do romance perfeito e nem da ilusão de imortalidade para compensar medos tão comuns. Preciso dormir.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Parte 1 de série sem título

Antenor não saía de casa há quase uma semana. Nos últimos dias e horas, as paredes de seu esquálido apartamento eram testemunhas de sua dor, suas únicas confidentes. A palidez nelas gastava sua criatividade, era cada vez mais difícil atribuir rostos, nomes e idéias a elas; ninguém com quem conversar. Todas iguais, sem nome para ele, não mais suas amigas. Achava que já passara da hora de mudar para local mais verde, menos pintado, sem fiação presente ou anteparos com massa corrida estampada.
Na geladeira amarela e ferrugem, só água e vodka antiga. Cansado do álcool, bebeu uma jarra d’água e decidiu sair e ver as coisas.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Som da Cor

A arte do verde é que ela, a cor,
é tão gata que te arrebata e seduz
com classe, nada de vulgaridade.
Ela trabalha os sentidos mais
primais com sutileza mas propriedade,
e apela ao seu maior amor.
Ganha os seus olhos entre tonalidades
co-irmãs, primas e tias, e dá tchau
sem dor de despedida.

Taniguchi Style MMVIII

Nossos modos furtivos, que resolvem
coisas acelerando o tempo e pulando
etapas, só nos geram problemas. No
fim, à hora das contas, dos prós e
contras e recompensas e punições,
o esforço aliviado faz pouco ou
nenhum efeito, e fica a lição, a partir
de impressão, de que o caminho mais
longo e tortuoso nos levaria até onde
queríamos chegar.
Você é uma criatura linda, maravilhosa...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Mais uma crônica antiga...

DUAS PESSOAS

- Qual é o sentido da vida? A gente apenas vive, certo?
- Certo.
- A gente toca pra frente e vê no que dá, né?
- Né.
- Eu não tô certo?
[...]
- Pra quê planejar se a gente não sabe o que vai acontecer mesmo, né? Deixa rolar, certo?
- Certo.
- Então a gente olha pra parede e contempla o branco-nada, o tudo-azul...
- Legal.
- O que você tá achando?
- Legal.
- Eu também tô... Nada de perguntas, né?
- É...
- Nada que faça a gente pensar e ter dor de cabeça... E isso é ótimo. O que te parece?
- Legal.
- Eu gosto de conversar com você, você tem um papo legal... É profundo mas não me cobra muito.
- É..
- Certo.
- Certo.
- Então, quando é que você vai querer parar de contemplar a parede?
- Não sei...
- Você tá realmente gostando disso?
- Tô.
[...]
- É legal.
- Você é uma pessoa muito quieta... Meio monossilábica. Já te disseram isso?
- Já.
- E você não fez nada? Você não faz nada a respeito?
- Não.
- Por quê não? Não te incomoda saber que você incomoda as pessoas? Que seu silêncio tortura os outros?
- Não.
- Você não diz nada?
- Digo.
- O quê?
- O que eu tô dizendo agora.
- Você não vai fazer algo a respeito?
- Vou.
- Ah, finalmente uma atitude... Quero ver como isso vai acabar...
- Eu também.
- “Eu também” o quê?
- Eu também quero.
- Ver como isso vai acabar?
- Não.
- Ver o quê, então?
- A atitude do finalmente.
- Eu não tô entendendo...
- Nem eu.
- Porra, o que a parede tem que eu não tenho?
- Nada.
- Como assim?
- Nada...
- O branco e o azul? O nada e o tudo?
- Não...
- O quê? Como assim?
- Como.
- Eu não gosto de conversar com você, tudo é muito complexo. Você exige muito... E eu não queria pensar.
- Sim.
- Tá vendo? Eu nunca sei o que você quer dizer... Isso me confunde. Vamos ficar quietos... Olha a parede.
- Tudo bem.
[...]

sábado, 24 de janeiro de 2009

Pequenina crônica de 98 ou 99...

TODOS ARTISTAS

- Alô...
- Alô, aqui é da Tinhos Fofinhos Produções Artísticas.
- De onde?
- Tinhos Fofinhos Produções Artísticas, meu senhor.
- Ah, certo.
- Boa tarde.
- Boa.
- Gostaria de falar com o Sr. Luís Presley.
- Sou eu.
- Sr. Presley, me chamo Cleosvaldo Nunes. O senhor assobia e chupa cana?
- Olha aqui, seu cretino, vai se danar! Que tipo de pergunta é essa?
- Calma, Sr. Presley. É que me disseram...
- Te disseram o quê, palhaço?
- Me disseram que o senhor assobiava e chupava cana... Que o senhor é um multi-artista, um artista multimídia, multi-funções, multi-talentos...
- Esse mundo está mesmo perdido. Onde é que você viu isso? Aliás, quem te disse isso, seu...
- Nunes, Sr. Nunes. Bom, eu acabo de ler isso em sua ficha.
- Ficha, mas que ficha? Você é da polícia, do SPC, da minha agência bancária?
- Não, não sou. Sou da Tinhos...
- Corta essa!
- Sou da Tinhos Fofinhos Produções Artísticas. Estamos nas páginas amarelas...
- Aguarda aí.
- Ai meu Deus...
- O que você disse?
- Nada não, senhor.
- Bem, vocês estão aqui nas páginas amarelas sim. O que você quer?
- Sr. Presley, calma... O senhor asso-bi-a e chu-pa ca-na ou não?
- Se estivesse aqui eu partiria a sua cara...
- Senhor, isso é muito sério.
- Claro que é, eu quebraria mesmo a sua cara.
- Olha aqui, senhor, esquece isso... Tá bem? Foi um engano. Boa tarde.

Que panaca, pensou o Presley. Ele, um artista em ascensão no meio independente, se prestando a esse tipo de coisa.

Partiu resmungando rumo ao trabalho. Pagou a condução com seu mirrado dinheiro e chegou ao teatro onde, mais tarde, encenaria uma montagem de Chapeuzinho Vermelho. Fazia uma árvore... Uma árvore única, achava.

Dois dias depois se deparou com uma nova revista na banca de jornais. A capa trazia escrito: João Meloso, o primeiro brasileiro a assobiar e a chupar cana ao mesmo tempo! Como subtítulo: Saiba tudo sobre a vida desse maravilhoso novo artista.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Yo, Suriname

Querida, vamos nos mudar para o Suriname?
Eu, você, sua mãe, sua tia...
Vamos ser o que sempre quisemos?
Trópicos mais trópicos, febre amarela,
enguias, gula e sexo.
Vamos nos mudar para o Suriname, baby.
Visitar o Panamá, não o Canadá, e praticar
swing, como sempre quisemos.
Mataremos sua mãe e sua tia, herdaremos
o mundo, e compraremos o Suriname.
Vamos?

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Voz Sua

Não somos parecidos,
a sua solução não me
serve e seu latim não
me convence.
O seu exemplo é apenas
triste; segue feliz, amigo.

A Inútil Jihad

Temos um compromisso
com os insolúveis dramas
que são nossas vidas.
Esta noite, todas as noites
por vir até o fim dos dias,
contemplaremos o que nos
faz sofrer, nós mesmos, com
o mesmo mórbido tesão melancólico
que nos empurra ao nada; isto
parece o certo, parece ser o nosso
destino. Não há uma só partícula
de pureza sem que haja o broto
da mácula, a potência destrutiva,
nossa degradante natureza.
Não há uma só existência que
passe por este plano sem contribuir
para dor, destruição e caos.
É apenas triste concluir que este
é nosso destino e que nos debatemos
inutilmente forjando interesse em
interferir de maneira definitiva para
uma história com fim conhecido.

Thoreau

Se a injustiça é parte do inevitável atrito no
funcionamento da máquina governamental, que seja
assim: talvez ela acabe suavizando-se com o desgaste -
certamente a máquina ficará desajustada.

Se a injustiça for uma peça dotada de uma mola exclusiva
- ou roldana, ou corda, ou manivela -, aí então talvez
seja válido julgar se o remédio não será pior do que o mal;
mas se ela for de tal natureza que exija que você seja o
agente de uma injustiça para outros, digo, então, que se
transgrida a lei.

Faça da sua vida um contra-atrito que pare a máquina.
O que preciso fazer é cuidar para que de modo algum
eu participe das misérias que condeno.


- A Desobediência Civil, Henry David Thoreau, 1848.

Etimologia de Pedagogia

Quem não sabe, ensina.
Eu posso ensinar a você um zilhão
de coisas a tornar sua vida melhor,
sou capaz disso.
Eu sou capaz de guiar os cegos de
cegueiras mais complexas por períodos
mais que complicados, estar por perto,
segurar suas mãos enquanto choram
por medo da vida, e suceder.
Posso suceder em aconselhar, treinar,
ouvir, racionalizar abstrações e ponderar
prós e contras, desde que se trate do outro,
de você e de seus problemas.
Eu consigo ficar acordado por quarenta
e nova horas ininterruptas enquanto você
dói, focado em seu bem-estar, e não reclamar
por desconforto físico ou emocional.
Eu posso todas estas proezas quando diz
respeito a qualquer um no planeta que não eu.
Absolutamente qualquer um.