terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Perdoe-me Pelo Sol

Eu quero escrever o grande romance da literatura brasileira pós-moderna. Eu desejo ser estudado nas escolas e academias, ter minha vida pessoal e estilo literário dissecados. Eu busco a imortalidade através das palavras e não faço a mínima idéia de como começar. Penso em Fante e Asimov, penso em minha vida e na certeza de que ele, o grande romance, está nesses anos vividos, está dentro de mim, mas nada grandioso surge. É tudo a mesma ladainha, velha porcaria que há dez anos atrás. Pouco mais requintadas, menos rústicas, menos cruas, mas ainda as velhas linhas transpirando auto-piedade a cada seqüência sujeito-predicado posta em papel.
São quatro e trinta e nove da manhã de quinta-feira, mais uma madrugada insone, e penso que poderia parar de pensar para ter alguma paz. Eu planejo a inexistência total via plano perfeito há uns bons onze anos. Como é desgastante pensar em saídas perfeitas quando elas não existem e pronto. Pensar que um indivíduo comum pode driblar metafísica e filosofia, toda a culpa e teorias perfeitas vendidas e empurradas por séculos, e bolar uma saída de infernos pessoal e coletivo é patético.
Preciso ver o mar. É isso. Vou ver o mar e adormecer sob o teto de alguma barraca em praia isolada torcendo para o dia não amanhecer e a noite ser eterna. Eu funciono melhor sem luz natural; sem luz alguma, na verdade. Não existirão ansiolíticos nas águas dos cocos que eu capturar para matar sede e fome, muito menos antidepressivos. [Revisitando a lagoa azul, sem Mila Jovovich ou Brooke Shields correndo nuas pela areia...] Não existirão as obrigações diárias, socialização e políticas relacionais; me sinto bem entre os animais desprovidos de cognição mas vivendo sob códigos de ética, moral e honra muito mais sábios e acertados que os meus. É assim que a saída pode ser quase perfeita. Tendo isso, não preciso do romance perfeito e nem da ilusão de imortalidade para compensar medos tão comuns. Preciso dormir.

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